No anterior comentário "Informatização nos Tribunais - III" havia concluído pela constatação de que Portugal contém na verdade dois países, o real e o de gabinete.
É até frequente ouvir-se um e outro político referir-se ao país real, quando se desloca para áreas fora do seu gabinete.
O país de gabinete é aquele no qual se movem os decisores públicos (decisor= aquele que pode autoritariamente dividir o queijo com a sua faca).
O país real é aquele onde verdadeiramente se reflectem as consequências das manobras e da arte de partir e repartir o queijo.
Não é só na área da justiça que se manifesta, de forma evidente, esta aberração que é haver dois países e um sistema.
Isabel Cluny, no Expresso de hoje, sob o título "Os suspeitos do costume" e a propósito da determinação governamental de obrigatoriedade de permanência dos professores, nas escolas, por mais tempo, além das horas lectivas e outras similares, diz:
"Saberão os decisores que na maioria das nossas escolas há, quando muito, meia dúzia de computadores velhos, com sistemas operativos obsoletos, sem ligação à Internet. As impressoras escasseiam, «scanner», a existir, será um por escola. As salas são tórridas no verão e geladas no Inverno. Não há livros actualizados e as bibliotecas / centros de recursos estão mal equipados e têm falta de espaço. a escassez de recursos limitou o número de fotocópias que cada professor pode distribuir aos alunos anualmente. As salas, demasiado pequenas para o número de alunos que comportam, impedem que os professores e alunos circulem. Os meios audiovisuais escasseiam, frequentemente não funcionam, não existem verbas para os reparar.".
A resposta parece óbvia: Não. Os decisores políticos não conhecem esta realidade.
Conhecem apenas o país de gabinete, o país cuja fronteira não ultrapassa os limites da sua magnífica secretária de nogueira.
Por isso, face à gravidade da situação no ensino, que aliás vai além do cenário descrito, o diagnóstico foi só um: Os professores não trabalham!
Daí a medida de gabinete: Permaneçam os professores na escola, para além do horário normal (fazendo o que? ninguém disse...) e acaba-se com o insucesso escolar.
Tal como na justiça: Os Magistrados e os funcionários não trabalham e por isso a justiça está de rastos.
Solução brilhante: Diminuir as férias judicias (não as férias das pessoas que ali trablham - mas não lhes demos ideias...). De tudo o que pode e deve ser feito, o ministro, depois de muito pensar e analisar os problemas do país de gabinete, lá da sua secretária de casquinha, aparece com uma solução brilhante!
O país real, esse continua a padecer dos mesmos males de sempre.
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