sexta-feira, agosto 21, 2009

PARADOXO EXISTENCIAL

Subtil
O tempo.
A leve brisa no silêncio
dos afazeres longínquos.
Perdido no nada
à espera de nada
à espera do nada.
Com tudo para ser.
E sou.

É o nada que me preenche os dias.
O nada cósmico
feito das partículas atómicas do meu ser pulsante.
Dos nossos "ser".
O nada da espiral sem fim,
volátil,
instantânea,
que é sem ser.

A existência é dinâmica.
A existência é uma dinâmica.

Volto à brisa suave.
Envolto na brisa suave
solto os sentidos à natureza.
O sentido cósmico do ser
assola-me.
Invade-me.
Pacifica-me.

Não há referências cósmicas.

Para ser
inventámos Deus.
Tal como para ter se inventou o dinheiro.

E somos?

E sendo, sabemos nós o que somos?
E, sendo, saberemos ser o que somos?
Para onde vai o que somos depois de deixarmos de ser o que somos?

Ser ou não ser.
É a aparente, eterna, cósmica questão.

Somos nada.
Seremos nada
em direcção ao nada.
Entretanto, tudo acontece.
Um tudo fugaz.
Um tudo universal e fugaz.
Um tudo maravilhoso, universal e fugaz.
Um tudo trágico.
Um tudo-nada!

xavier
21AGO2009

terça-feira, agosto 11, 2009

MORTE DE GRILO

Embora mantenha uma leve esperança que assim não seja,
temo que
os sócrates e ferreiras leites e os isaltinos e fátimas felgueiras e os antónios pretos deste país
sejam o que de melhor o país é capaz de produzir, politicamente falando!

Se assim for, é sinal de que estamos nos limites máximos da nossa competência política colectiva.

E se o melhor é isto, então Portugal e os portugueses estão lixados com um F do tamanho dessa incompetência.

As próximas eleições legislativas não consubstanciam mero acto de sufrágio.

Serão um acto suicida.

sexta-feira, agosto 07, 2009

GANGSTERS

Chicago, anos 30 do século XX.

As várias famílias de gangsters preparam a batalha pelo controlo dos negócios escuros, do dinheiro, do poder.

Internamente, os capo e homens de mão perfilam-se, ajoelham e beijam a manápula de cada padrinho, sedentos dos lugares mais altos na hierarquia interna.

Para o exterior, a imagem de cada família é de candura, com os seus negócios de fachada legítima, os seus filhos e filhas, com os seus netos e netas, os seus mortos aparentemente por causas naturais.

O cidadão comum, crédulo, só se apercebe do logro quando os capo lhe cai em cima, exigindo o pagamento extorsionista, qual aumento inopinado de impostos, impondo o seu (da máfia) negócio ilegal pago com o seu (do cidadão) dinheiro.

A batalha campal não é pela alternativa.

A luta é pela alternância.

A sede é de poder.

Há muitos capo e homens de mão para alimentar.

Al Capone, depois do jogo ilegal, dos prostíbulos, destilarias e cervejarias ilegais, depois de assassinar e trucidar quem se lhe atravessou no caminho, veio a ser condenado por fuga ao fisco.

Por vezes é assim.

Um Casa de Caridade, um Livreporto, ou outra merda qualquer, pode dar cabo de uma brilhante carreira.

Mas, claro, isto era a América dos anos 30 do século XX.

sábado, agosto 01, 2009

OBRAS PÚBLICAS E CONSEQUÊNCIAS

Saído dos bancos da universidade com uma licenciatura em economia no bolso, o Zé Chico-Esperto, por portas-travessas, lá conseguiu uma audiência com o primeiro do seu país, invocando o seu empreendedorismo e juventude.

-Senhor primeiro, agora que já explanei as linhas mestras do empreendimento que me proponho realizar com vista a apresentar-me nos concursos das grandes obras públicas anunciadas, e que é de vulto como vê, devo manifestar-lhe o meu receio de entrar num meio empresarial em que, segundo consta, grassa a corrupção.

-Chico-Esperto, meu caro empreendedor, não deve temer, pois nós temos combatido ferozmente esse flagelo e hoje praticamente é um fenómeno marginal. Se consultar a nossa página na internet, verá! A propósito... aqui tem um magalhães que de bom grado lhe ofereço... não se esqueça de votar... eh eh eh

-Pois... muito obrigado. Saiba, senhor primeiro, que ainda nem iniciei a minha actividade e já fui abordado por uma empresa, a propor uma parceria em termos que francamente me pareceram muito, mas mesmo muito à margem da lei, envolvendo dinheiros públicos por debaixo do pano, financiamento partidário também por debaixo do pa...

-Desculpe interrompê-lo, caro Chico-Esperto, mas empresas assim são hoje uma raridade. Na verdade... ora deixe-me cá ver... essa empresa... terá sido a Motoreta & Engenhocas, SA?

-Com todo o respeito, senhor primeiro, não posso divulgar, sabe, é que...

-Ah! Então terá sido a Falcatrões & Burlatícios, Ldª?

-Não, não, sabe...

-Já sei! Foi o BPN - Bronco Prapular & Negaças, SA ! Ou então o consórcio Santinho, Pinhoco & Jamé, SA! Talvez a Enge & Nheiros - Obras Feitas, SA! Ou mesmo a Proabjecto & Arquitectura das Beiras, Ldª!

-Senhor primeiro, com todo o respeito... não posso divulgar.

-Muito bem, meu caro jovem. Em todo o caso, já sabe: A corrupção é um fenómeno raro e mesmo desconhecido na nossa democracia e especialmente durante o meu governo!

Terminada a audiência, o jovem empreendedor Chico-Esperto
reune-se com o seu sócio, Chico-Basófias.

-E então, resultou??

-Claro!!! Tenho seis nomes de empresas a quem podemos propor parcerias "especiais" eh eh eh...

OS LADRÕES DE FRAQUE

Num país de chico-espertos e onde muitos dos que são tratados por “Vossa Excelência” são verdadeiros ladrões, uma pessoa honesta ou é considerado burro ou um otário.