sexta-feira, julho 28, 2006

A CAUSA DAS COUSAS

A mnistra da inducação visitou recentemente uma escola de... insucesso, pois queria colher uma sensibilidade prática sobre as razões de tal insucesso.
Em meio da visita, olhou para um miúdo, aliás com cara de sono e de fome, e perguntou-lhe:
- Ouve lá, meu menino, como te chamas?
- Abílio.
- E que idade tens tu?
- 9 anos...
- Ora aí está! Ora aí está!! Que vergonha! Pela tua idade já eu tinha, pelo menos, 10 anos!!

USE IT, STUPID!

Ao Albertino Carrapeta, doente da moleirinha, propôs o médico um transplante do cérebro.
- Ó sr. Albertino, você pode escolher entre dois cérebros que temos disponíveis: O cérebro de um arquitecto, que custa 10.000€ e o cérebro de um político, que custa 100.000€.
- Ó sr. dr., isso quer dizer que o cérebro do político é melhor do que o do arquitecto?
- Não exactamente, sr. Albertino. É que o cérebro do político tem muito pouco uso!

ITS THE CONSTITUTION, STUPID!

Como é sabido, a Constituição consagra o princípio da igualdade e o da não discriminação.
Por isso, protege todos os cidadãos, sejam eles alienados, alcoólicos, toxicodependentes ou deputados!

ITS A JOKE, STUPID!

Podem não gostar das minhas piadas, das minhas anedotas.
Mas o certo é que elas não magoam ninguém.

Mas já o governo, de cada vez que diz uma piada... é um decreto-lei.
E de cada vez que faz um decreto-lei ... é uma anedota!

INGRATIDÃO

Ali junto a S. Bento, uma senhora tropeçou e caiu.
O primero-mnistro, que passava por ali naquele momento, ajudou a senhora a levantar-se.
- Oh, muito obrigado. Como lhe posso agradecer?
- Ora, vote em mim nas próximas eleições!
- Desculpe... eu bati com a anca no chão e não com a cabeça!

O CRIADOR

Sócrates, o primeiro-mnistro português, foi ao psiquiatra.
- Dr., tenho um problema sério! Os portugueses já não gostam de mim, os meus adversários e até os meus aliados acham que eu sou um pretensioso. Têm dito até que eu me julgo Deus, que tudo quero, posso e mando!
- Ora muito bem caro Engrº Socras. Conte-me tudo, desde o princípio.
- Pois muito bem... ora ouça: No princípio eu criei o céu e a terra...

quinta-feira, julho 27, 2006

DIÁLOGOS DE VERÃO - BAILE E MÁSCARA

- Reparei em si... toda a noite.
- Também o vi. Estava muito bem acompanhado...
- Ciúmes? Nem sequer nos conhecemos. Nem sequer dançámos...
- Não.não aqui, se bem me lembro.
- Não aqui? A sua figura é... deslumbrante... lembrar-me-ía, certamente. Apesar da máscara.
- Máscara? Ah, sim... sabe, apenas frequento bailes de máscaras. Como este...
- Pode... quer tirá-la?
- Não posso. Nem que o queira. Colou-se-me ao rosto. Definitivamente...
- Compreendo... sabe? também a minha. Colou-se-me ao rosto sem que eu desse por isso. Ainda pensei tentar removê-la, mas... já nem me dou ao trabalho.
- Tal como eu... casado?
- Sim. Quer dizer...celebrei um contrato de casamento.
- Um preciosismo? ou um verdadeiro negócio?
- Negócio. Evidentemente. Não tenho tempo a perder com as emoções.
- E o sexo, é bom?
- Tem dias. Tive problemas com as emoções. Por vezes não ficavam à porta.
- Também me aconteceu. Como resolveu?
- Simples: Afivelei esta máscara. Nunca mais tive problemas de consciência ou emocionais.... A propósito: A menina fode?
- Julguei que não mais perguntava...
- No fundo, sou tímido, sabe.
- Sei.
- Sabe?
- Meu querido... reconheci-te! Reconheci-te!
- Mas... Dália? Oh, minha querida e adorada esposa!

quarta-feira, julho 26, 2006

OS MAIORES!

Emanuel Torrentinha voltou a Portugal, depois de uma vida inteira de trabalho na América.
Encontrou um seu antigo amigo, o Ti' Anafrásio, e não se contendo, enalteceu as qualidades dos americanos, num linguarejar meio fifty-fifty:
- Na America we, nós, had, tivemos o George W. Bush, Bob Hope and Johnny Cash!
Respondeu-lhe o Ti' Anafrásio:
- Olhaquesta! E nós, in Portchugal, temos o Sócrates, no hope, and no cash!

PEQUENO PASSATEMPO

Para fazer sentido falta-lhe apenas a pontuação correcta:

"Um caçador tinha um cão
e a mãe do caçador
era também o pai do cão".

sábado, julho 22, 2006

DIÁLOGOS DE VERÃO - MAJA DESNUDA

- Boa tarde. Sílvia, a sua modelo. "33 anos de idade" lembra-se? Falàmos pela net...
- Boa tarde. Claro que sim... Entre, entre.
- Hum... que atelier...! parece a gruta do Ali Bábá... Ui... e tantos quadros...! nús! Faz muitos nús...
- Um brique-a-braque isso sim. Atelier de pintor... é assim... milhões de objectos inúteis... mas cada um deles com uma história.
- Gosto. Mas é tão pessoal... sinto que estou a invadir... mesmo a devassar a sua... intimidade.
- Não deixa de ser assim, mas afinal vai posar para mim. Passa a fazer parte da minha intimidade. Bem-vinda!
- É fascinante, na realidade!
- Quando a contratei, pela Internet, disse-me que já havia posado anteriormente...
- Sim, é verdade. Posei já por três vezes... para grupos de senhoras. Um clube de pintoras amadoras.
- Alguém sabe que aqui veio?
- Como combinado, ninguém! Percebi a ideia: A surpresa será maior...
- Sente-se confortável com a ideia de posar para mim? Afinal, vai ter que se despir completamente, como sabe...
- Sim, ah ah, não há qualquer problema. Afinal, vai imortalizar-me!
- Literalmente! Muito bem. Podemos então começar, se estiver pronta. Pode despir-se. Tem ali um espaço para si, atrás daquele biombo...
- Não me lembro de ter visto qualquer exposição ou obra sua...
- ...
- Pronto. Cá estou! E agora?
- Humm...
- É essa a tela? É enorme! Já sei: tamanho natural!
- A Maja desnuda. Goya. Conhece?
- Devo confessar que não...
- Não faz mal. Mostro-lhe uma fotografia. Aqui está. É esta a pose que quero que adopte.
- E onde?
- Ali, naquele divã... tente esta posição... assim... o braço mais levantado... isso...
- Hum, macias estas almofadas... cetim...
- Faremos uma única sessão de uma hora, sem intervalos. Acha bem?
- Sim. Posso ir falando...?
- Claro que sim, aliás, gosto de ir falando com as minhas modelos...
- ... Faz muitos nús. Mulheres. De um realismo impressionante!
- São mulheres... imortais!
- Tal como eu dizia... vai imortalizar-me, ah ah ah!
- Sim... e bem merece... tem um corpo... perfeito... no momento perfeito...
- Pensei que os artistas olhavam para os seus modelos com outros olhos... olhos... estéticos! ih ih ih se é que isso existe...
- A beleza feminina interessa-me absolutamente. Captar cada pormenor, cada curva suave. Reconstruí-la na tela, dar-lhe vida...
- A avaliar pelas pinturas que tem nas paredes, já pintou bastantes mulheres. Não vende os quadros?
- Estes são de mulheres de 33 anos de idade. Todas elas. Como você. Não, estes não são para venda. Nenhum deles. São "as minhas mulheres". Sabe? são mesmo as minhas mulheres!
- Relaciona-se com as suas modelos? Desculpe perguntar... afinal, não tenho nada a ver com isso. É solteiro?
- Sou. Vivo com a minha mãe... não posso abandonar a minha mãe.
- Pois... Tem namorada! Típico dos pintores: solteiros... namorada... eh eh eh muitas namoradas...
- Não!! Quer dizer, não, não tenho namorada... não posso.... a minha mãezinha...
- 33 anos... porquê mulheres de 33 anos?
- É o momento ideal. É a altura certa. Aos 33 anos a mulher atinge o auge!
- Acha? Olhe que eu já sou assim desde os... 15 anitos!
- Não, não. Aos 33 anos a mulher atinge todo o seu explendor: toda a maturidade, toda a beleza!
- Mas porque não aos... 32, ou aos... 34?!
- Não! não! 33 anos... é o momento ideal para... para ser imortalizada! É uma afinidade cósmica.
- O que é que já está pintado? Posso ver?
- Não! Não pode! Não se mova daí. Foi esse o nosso contrato.
- Ui! Não, claro. Perguntei apenas por curiosidade.
- Tenho uma técnica: Inicio sempre a pintura pelos pés e vou pintando sucessivamente o resto do corpo, as pernas... e por aí acima... já lhe pintei os pés... delicados... com os dedinhos rosados... os tornozelos... as coxas... uma pele de pêssego... suave... perfumada...
- Sabe, acho que estou a ficar dormente. Sinto as pernas dormentes, até às coxas, precisamente. Como se as não tivesse!
- Não se mexa. Agora não se pode mexer. Depois fica bem. Vai ver que depois se vai sentir muito bem... relaxe...
- Não há problema. É uma dormência... doce. Não me magoa. Como eu disse, é uma sensação... como se não tivesse pernas!
- Tem, tem. E lindas, de pêssego...
- Obrigada. Passa os dias aqui? No seu atelier? Não costuma sair? Divertir-se?
- Não posso... a minha mãezinha precisa de atenção constante... este é o meu mundo, divirto-me aqui. Vivo aqui.
- É um pouco solitário, não?
- Não, nem por isso. Tenho a minha mãe, cuido dela, e... além disso tenho "as minhas mulheres"...
- Mas não são reais, são de tela e tinta!
- Não, não! São absolutamente reais! Posso acariciá-las, posso conversar com elas...
-Que estranho...
-Sim?
- Já não sinto o corpo até ao pescoço. Está dormente... mas não de me dói... simplesmente não o sinto... Nem os braços...
- Falta pouco... estou agora a retocar precisamente o pescoço.
-Mas... é que... não sinto o corpo. Não sinto mesmo. Como se não tivesse corpo... até ao pescoço...
- Tem corpo, sim. Um corpo lindo, imortalizado. Para sempre no seu máximo explendor. E só meu...
- Como...?
- Não se preocupe... não mova a cabeça. Estou agora a pintá-la.
- Não consigo. Nem que o queira não consigo movê-la. Talvez seja melhor interromper por momentos... desculpe.... creio que não me estou a sentir bem...
- Está quase, quase... estou a pintar os olhos. Não se assuste... vai deixar de ver...
- Por favor, não me consigo mexer... já não sinto a cabeça, não vejo... por favor ohh POR FAVOR... ajude-me!
- Só mais um pouquinho... deixo sempre a boca para último lugar...
- Socorro! SOCORRO! SOCORR.... ..
- Pronto! A boca sempre em último... gosto de conversar enquanto pinto...

Toc, toc...

- Ah! Entre mãezinha. terminei agora mesmo este quadro. Que acha?
- Pareceu-me ouvir alguém gritar... ia jurar que ouvi uma voz de mulher... a gritar...
- Outra vez, mãezinha! Como vê, estou completamente sozinho...

quinta-feira, julho 20, 2006

DIÁLOGOS DE VERÃO - ENCONTROS

- Não tema. São apenas carangueijos. Olá. Boa noite.
- Boa noite... Não é exactamente temor... arrepiam-me estes bichinhos.
- Há piores. E depois, há coisas bem mais importantes... olhe! Este luar, por exemplo..
- Claro que sim. Sou uma tonta. Amedronto-me por vezes com insignificâncias...
- Bernardo. Bernardo Perofino... permite-me que a acompanhe?
- Bem... sim... vou até ao fim do pontão. Quer vir? Chamo-me Rita.
- Obrigado. Só não digo "até ao fim do mundo", porque seria uma vulgaridade... mas o prazer é meu. Ou também é meu.
- Não diz, mas... diz! Diz sem "querer" dizer...
- É verdade. Apanhou-me. Mas como dizer-lhe que apesar de ter acabado de a conhecer, sinto que... sinto uma enorme afinidade? Sem nome! Empatia?
- Vai ver, está apenas carente... uma fase menos boa...
- Não, não! Pelo contrário. Sinto-me bem com as coisas, com a natureza, com as pessoas. Estou de bem com o mundo!
- Também me sinto assim: de bem com a vida.
- E todavia...?
- É isso: "e todavia...?"... Falta-me algo... alguém...
- Também sinto isso, é o problema da partilha.
- Da partilha! Você é muito engraçado! "problema da partilha"! Mas, sabe...? é mesmo isso. Prefiro, no entanto, chamar-lhe comunhão...
- Ouça o marulhar das ondas contra a rocha... ouça...
- ...
- Imagine que estava aqui sozinha...
- Pois é: Não teria piada nenhuma.
- É a partilha... a comunhão que torna este momento... mágico.
- É a sintonia das emoções... é saber que num momento dois corações se emocionam em simultâneo...
- "Não teria piada nenhuma"... mas estava aqui sozinha!
- Sabe: Tenho um amigo meu, o xavier, que tem um poema que começa assim: "Estou no cais como quem parte / E olho o mar como quem fica /Bebo da lua a nostalgia / E deito ao vento o pensamento". Era um pouco assim que eu me sentia...
- É a natureza humana. De alguma forma a natureza é uma espécie de agente... aglutinador...

- Parece uma maldição!
- Por vezes é... mas acredito na capacidade de regeneração... na vontade... e... por que não dizê-lo? no amor!
- Não é um desiludido!? Isso é bom. Também não tenho ilusões. Não servem para nada. Prefiro... o concreto. Avaliar e... decidir.
- Como eu! Isso dá aos sentimentos a oportunidade de se manifestarem por inteiro e com verdade.
- Oops... desculpe, toquei-lhe na mão sem querer...
- Senti... mas o meu toque foi... por querer...

- Também o meu... menti... nem sei porquê... não há necessidade.
- Não, não há! Rita. Rita! R-i-t-a! Que nome lindo! Só podias ser Rita!
- Eu!? Porquê?! Bernardo! Ber-nar-do!
- Sei lá! Olho para ti e... desde sempre te conheço! Rita! Respiro esta maresia... e cheira-me a Rita! Olhos as estrelas e são todas Ritas Ritas RITAS!!
- Tonto! Bernardo, és tu! Estas ondas suaves, mas cheias, fortes... és tu! Estes rochedos... és tu! Os carangueijos...
- Rita! Não! Os carangueijos não, ah ah ah, os carangueijos não! Nem posso ser! Tu tens medo de carangueijos, lembras-te?
- Não, não tenho! Eu disse que me arrepiavam os carangueijos! E é verdade! Os caragueijos... és tu! Arrepias-me... de medo... de prazer... de emoção... de um sentimento forte, cá dentro do peito...
- De amor...?
- Porque não? De amor!!! Sim! De amor!

DIÁLOGOS DE VERÃO - O FORMULÁRIO

- 324!
- Sou eu. Agora sou eu. Finalmente.
- Sente-se, fachavore. Ora diga.
- Caalma. Sabe? estive atenta para ver se me tocava (ih ih ih) o seu atendimento...

- Pois. Ora diga. Nome?
- Epifânea. Epifânea Fagundes dos Pra-ze-res- e-Mo-rais.
-... e Morais. Já está. Idade?
- Idade? Idade! Idade não se pergunta a uma senhora; tome o meu bilhete de identidade.
- O bilhete dentidade? serve...
- Gosta do seu trabalho?
- Sim... claro... claro que sim! Ora bem... sexo... femi...
- Sexo? Hum... claro que sim...
- Pois... sexo feminino!
- Claro! Sexo feminino... e masculino... e muito...
- Muito?
- Muito bem. Muito bem, mesmo. O senhor é um verdadeiro profissional. Ora, depois do sexo o que se segue?
- Depois do sexo...?
- Bem... aí. Nessa papeleta! Está toda preenchida?
- Não, não. Tá tudo!
- Não faltará a morada? A morada, sabe, é uma coisa que é sempre bom saber... onde se mora... quem lá mora... quem lá está e quem não está a certas horas do dia... ou da noite...
- O quê?! Pra quê? Aqui o formulário não diz nada disso.
- O formulário! Diz muito bem. Mas... os formulários são tão impessoais... as pessoas... você!
- Eu?! Eu o quê!?
- Você. Você, com esse ar tão... tão... provocador, tão... matreiro... você precisa certamente da minha morada, não é?
- Matreiro?! Olhe queu sou muito profissional! Mas praqué queu preciso da sua morada? O formulário játá preenchido!
- Tem a certeza?
- Tenho sim, claro que sim! Tá tudo!
- Profissional! Muito profissional... Então... Olhe, faz-me o favor de não me apalpar as coxas? Já é a segunda vez!
- Como!!!?? Mas eu... mas eu...
- E como se atreve a fazer-me uma proposta dessas?! Hem?
- P-proposta?! Eu? Mas eu nem... m-m-mas eu... eu...
- Já Chega! Isto é um ultraje! O senhor ofendeu-me! Como se atreve a assediar-me dessa maneira?
- Ó minha senhora...!!! Eu-eu... M-mas... eu...
- Quero falar com o seu superior hierárquico! Já! Vou apresentar queixa por assédio sexual! Ora! Onde é que já se viu uma coisa assim!!!

quarta-feira, julho 19, 2006

DIÁLOGOS DE VERÃO - BELIEVE TO SEE

- Gosto de chapinhar na água, assim pela tardinha...

- Também eu... especialmente quando a praia já não tem ninguém, como hoje...

- Olhe! As primeiras estrelas! Gosta de estrelas?

- Se gosto! As estrelas... o cheiro a mar... esta brisa... a partilha...

- Partilha?... comigo? ...Comigo! ...pensava que teria outro alguém com quem partilhar as estrelas...

- Não! Escolhi-o a si! De propósito!

- Mas... eu? Porquê eu?!

- Porque... esta noite sinto-me... inspirada... e... carente, percebe?

- Claro... Oh, sim, claro! Carente... e... como brilham os seus olhos! E os seus lábios...

- Brilham! Estão húmidos... quer senti-los? Sentamo-nos?

- Si-sim... claro, aqui.

- Sempre gostei de homens assim... musculados... que bem que cheira... huuummm...

- Pele de seda... uma seda... deixe-me beijá-la...

- E você um homem... másculo... deixe-me revolver esses cabelos e... hummm...

- Hummm Ahhhh...

- Ohhhh... ahhhh....

- Ohh! Minha querida...

- Hummm... mais... mais...

- É como... um sonho! Você é uma mulher de sonho! oohhh, humm...

- Sim, como um sonho... que se esfuma... huummmm

- Ohhh hummm... sim... mais... mais...

- *

- m-mas... ? hei... hei?

- *

- Onde estás?... tu... onde estás?! Onde estás? Hei! ONDE ESTÁS???!

- *

- Hei!!! HEI!!!!! QUEM ÉS TU??! VOLTA!!!! volta! volta... oh, v-volta...

terça-feira, julho 18, 2006

O CONTRATO ORGÂNICO

"Houve um tempo em que todos os membros do corpo
Se rebelaram contra a barriga; acusaram-na assim:
Que apenas como um abismo ela existia
No meio do corpo, preguiçosa e inactiva,
Ainda aguardando a vianda, nunca suportando
Igual trabalho com os restantes; onde os outros instrumentos
Realmente viam e ouviam, inventavam, instruíam, caminhavam, sentiam
E, naturalmente, participavam, ajudavam
No apetite e afeição comum
De todo o corpo. A barriga respondeu...
Para os membros descontentes, as partes amotinadas
Que invejavam a sua posição; mesmo assim muito aproximadamente
Como vós difamais os nossos senadores por isso
Eles não são como vós...
«É verdade, meus amigos e companheiros», disse ela,
Que recebo a comida geral a princípio
De que vós viveis; e próprio é,
Porque eu sou o armazém e a loja
De todo o corpo. Mas, se vos lembrardes,
Eu mando-a através dos rios do vosso sangue,
Mesmo para a corte, o coração, para a sede do cérebro;
E, através das bielas e serviços do homem,
Os nervos mais fortes e as pequenas veias inferiores
De mim recebem essa natural competência
De que vivem. E...
...embora todos imediatamente não possam
Ver o que eu despacho para cada um,
Todavia eu posso fazer os ajustes, que todos
De mim voltam a receber a farinha de todos
E deixam-me apenas o farelo...
Os senadores de Roma são esta boa farinha,
E vós os membros amotinados; pois, examinai
Os seus conselhos e os seus cuidados, digeri as coisas correctamente
Tocando no bem comum, vós verificareis
Que nenhum benefício público que recebeis
Procede ou vem senão deles para vós,
E de modo nenhum de vós próprios."

(Shakespeare, Coriolanus, I. 95-156)

segunda-feira, julho 17, 2006

DIÁLOGOS DE VERÃO - sSsSsSsSsSsSsSsSsSsSsS

- Não posso.
- Não pode? Ou não quer? Enfim... acabámos de nos conhecer...
- Não posso, sabe, vou agora ao meu suicídio...
- Ah, ah... está a brincar... claro!
- Não, não estou... quer acompanhar-me?
- Co-como?! Acompanhá-la... ao seu suicídio... desculpe, nem estou em mim...
- Porquê?! Afinal, nada de mais...
- Está de mal com a vida? Que desespero é esse?...
- Desespero? Não! Desespero nenhum, meu caro amigo.
- Mas então porquê esse acto... tresloucado (desculpe!)
- É um hábito, sabe. Todas as quartas-feiras me suicido.
- Como?! Desculpe!?
- É... rejuvenescedor... e faz-me bem à pele... Vem?
- Bem... vou... vou...

- Entre, a casa é sua...
- Com licença...
- Acomode-se... bebe alguma coisa?
- Bem... sempre vai... su-suicidar-se?
- Ah, ah, ah... não é propriamente um suicido, sabe? É mais... como lhe disse, um rejuvenescimento.
- Uf!
- Vê? Olhe a minha pele... olhe... maisss de perto.
- Escamas? Tem a pele... em escamas?! É doença?
- Ah! Ah! Não! É a minha naturezzzza, sssssabe? Quer uma massssssçã...?
- Aaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhh........

domingo, julho 16, 2006

DIÁLOGOS DE VERÃO - RECLAMAÇÃO

- Olhe... fachavore...
- Boa tarde. Diga, por favor.
- Olhe. Eu queria apresentar uma reclamação do inzame do 12º ano.
- De qual deles?
- Do inzame de porteguês.
- Do exame de português! Muito bem: Preenche esta folha e aqui, neste espaço, deixa escrita a sua reclamação! Está bem?
- Tá bem. Brigado.

«Nome : Joselindo Cascagrossa
Filho de: Francelino Temna Grossa
E de: Imaculada da Purificação Leva e Casca
Morada: Rua do Vai com Deus, 13 , Nenhures de Baixo

Reclamação:

Eu não koncordo com a nota do inzame de porteguês.
1 valore não se dá a ningem.
1 valore é ir lá e eskrver o nome.
De çarteza ca stora singanou e ela kria era eskrver 11 e inganosse e eskrveu 1 valore mas tá inganada.
O inzame era muitas preguntas e aquile era complicado e açim não é justo.
Uma peçoa tem k saber tudo e eskrver tudo e de pois não á tempo.
O tempo é curto e os inzames são muita cumpridos.
Nem um dissionário se pode uzar.
E eu estedei bué, buéé da comprenção do testo e a otragrafia e a sémantica.
Tudo. Estedei tudo. Até sabia o k foi o romantismo e o claçissismo e o realismo e essas coisas todas.
Tou praparado pro inzame, venho faser o inzame e a stora népia.
Mas o que eu não poço admetir é ka stora eskrveu na folha do inzame k me dava 1 valore por causa de dois erros munta graves.
E não é justo proque ela diçe keu dava bué da erros.
Ora sela por dois erros munta graves me dá 1 valore, atão pelos erros todos avia de dar por menos os 10 valores.
Disse keu eskrvia poco e lia inda menos e quiço é kera o prolema.
Mas não é vardade. É que né mêmo vardade.
Eu
por dia amando pra i mais de 200 SMS. escrevo bué e leio bué.


E eu fasso aqui esta reclamassão açim cumprida e tudo pra provar keu eskrvo muito e eskrvo bem.
E é uma injestiça ter 1 valore.
Por isso reclamo ó pro menos 10 valores.
Munto agardeçido.»

sábado, julho 15, 2006

FIRST THINGS FIRST

"(...)
Ao ouvir o barullho da máquina do tempo, queixa-se o Papalagui assim: «Que pesado fardo; mais uma hora se passou!»
E ao dizê-lo, mostra geralmente um ar triste, como alguém condenado a uma grande tragédia. No entanto, logo a seguir principia uma nova hora!

Como nunca fui capaz de entender isto, julgo que se trata de uma doença grave. (...)
Suponhamos, com efeito, que um Branco tem vontade de fazer qualquer coisa e que o seu coração arde em desejo por isso: que, por exemplo, lhe apetece ir deitar-se ao sol, ou andar de canoa no rio, ou ir ver a sua bem-amada.
Que faz ele então?
Na maior parte das vezes estraga o prazer com esta ideia fixa: «não tenho tempo de ser feliz».
Mesmo dispondo de todo o tempo que queira, nem com a melhor boa vontade o reconhece.
Acusa mil e uma coisas de lhe tomarem o tempo e, de mau grado e resmungando, debruça-se sobre o trabalho que não tem vontadde nenhuma de fazer, que não lhe dá qualquer prazer e que ninguém, a não ser ele próprio o obriga a fazer.
Quando de repente se dá conta de que tem tempo, que tem realmente todo o tempo à sua frente, ou quando alguém lhe dá tempo - os Papalaguis dão frequentemente tempo uns aos outros, é mesmo a acção que mais apreciam -, nessa altura, ou já não tem vontade, ou já se cansou desse trabalho sem alegria.
E geralmente deixa para o dia seguinte o que podia fazer no próprio dia.

(...)

Encontrei uma única vez um homem que não se queixava de estar a perder tempo e que o tinha de sobra.
Mas esse era pobre, sujo e desprezado.
As pessoas desviavam-se, para o evitar, e ninguém o respeitava.
Não entendi tal comportamento, pois ele andava devagar e tinha um olhar sorridente, calmo e bondoso.
Quando lhe perguntei qual a razão disso, o seu rosto crispou-se e repondeu-me com voz triste:
«Nunca soube empregar o meu tempo de maneira útil; é por isso que não passo de um pobre-diabo desprezado por toda a gente!».
Aquele homem tinha tempo, mas nem mesmo ele era feliz.

(...)

Oh! meus queridos irmãos!
Nós nunca nos queixámos do tempo, amámo-lo e acolhemo-lo tal como ele era, nunca corremos atrás dele, nunca tentámos amalgamá-lo ou cortá-lo em pedaços.
Nunca ele nos deixou desesperados ou acabrunhados.
Se algum de nós há aí a quem falte tempo, que diga!
Todos nós o possuímos em quantidade, não temos razões de queixa.
Não precisamos de mais tempo do que o que temos, temos sempre tempo suficiente.
Sabemos que atingiremos o nosso alvo a tempo, e que muito embora ignoremos quantas luas se passaram, o Grande Espírito nos chamará quando lhe aprouver.
Devemos curar o Papalagui da sua loucura e desvario, para que ele volte a ter a noção do verdadeiro tempo que tem perdido.
Devemos destruir as suas pequenas máquinas do tempo e levá-lo a confessar que há muito mais tempo do nascer ao pôr do sol, do que ao homem lhe é dado gastar.
(...)".

'Discursos de Tuiavii, Chefe de tribo de Tiavéa nos mares do Sul, recolhidos por Erich Scheurmann'

sexta-feira, julho 14, 2006

ATITUDE - uma estória infantil

Três leões havia na floresta.
Um belo dia, a pantera reuniu a restante bicharada da floresta e disse:
- Nós sabemos que o leão é o rei dos animais, mas há uma dúvida: Havendo três leões, fortes, a qual deles devemos nós prestar homenagem? Quem, de entre eles, deverá ser o nosso rei?
A doninha, que dominava uma boa parte do vale, propôs que o rei fosse o mais hábil a conquistar o apoio dos outros bichos, mas ninguém a ouviu.
Os três leões souberam da reunião e comentaram entre si:
- É verdade! A preocupação da bicharada faz sentido. Uma floresta não pode ter três reis.
- Precisamos saber qual de nós será o escolhido.
- Mas como descobrir ?
Essa era a grande questão.
Todavia, lutar entre si não queriam, pois eram muito amigos.
Impasse.
De novo, todos os animais se reuniram para discutir uma solução para o caso.
Tiveram então uma idéia excelente.
A pantera, porta-voz dos animais, encontrou-se com os três felinos e deu-lhes a conhecer o decidido:
- Bem, caros amigos leões, a solução para o problema está na Montanha Difícil.
- Montanha Difícil ?
- O que é isso?
- É um desafio?
- É simples, ponderou a pantera. Decidimos que vocês deverão escalar a Montanha Difícil. O que primeiro atingir o pico da montanha será consagrado o rei dos reis.
Ora, a Montanha Difícil era a mais alta entre todas naquela imensa floresta.
O desafio, porém, foi aceite.
No dia combinado, milhares de animais cercaram a Montanha para assistir à grande escalada.
O primeiro tentou. Não conseguiu. Foi derrotado.
O segundo tentou. Não conseguiu. Foi derrotado.
O terceiro tentou. Não conseguiu. Foi derrotado.
Os animais estavam curiosos e impacientes.
Afinal, qual deles seria o rei, uma vez que os três haviam sido derrotados?
Foi nesse momento que uma velha Águia, de grande sabedoria, pediu a palavra:
- Eu sei quem deve ser o rei!!!
Todos os animais fizeram um silêncio de grande expectativa.
- Sabes? mas como? Gritaram em coro.
- É simples - confessou ela - voava eu entre eles, bem de perto, e quando eles voltaram fracassados para o vale escutei o que cada um deles disse à montanha.
O primeiro leão disse: "Montanha, venceste-me!"
O segundo leão disse: "Montanha, venceste-me!"
O terceiro leão também disse: "Montanha, venceste-me, por enquanto! Mas tu montanha, já atingiste o teu tamanho final e eu ainda estou a crescer.".
- A diferença - completou a águia - é que o terceiro leão teve uma atitude de vencedor diante da derrota e quem pensa assim é maior que o seu problema: é rei de si mesmo e está, certamente, preparado para ser rei dos outros.
Os animais da floresta aplaudiram entusiasticamente.
O terceiro leão foi coroado rei.
Os outros dois leões acabaram por compreender a razão do 2 a Matemática e 3 a Física nos exames do 12º ano.
A Águia, face ao sucesso, abriu um quiosque de apoio a pequenos e médios investidores.
A pantera abriu um quiosque de justiça restaurativa.
A doninha fundou um partido político.
E viveram todos felizes, para sempre!

quinta-feira, julho 13, 2006

A PARADE OF WONDERS*

When I revisit my parade of wonders I become anchored and focused.
Measuring the seasons, new growth, old friends.
This is where lines are written and scored--and paintings are laid out on the retina of the mind.
While other folks may pass by and be a part of this space, I claim it as my own.
The cedar growing from the spruce
The rock of sunning turtles
The pond of great bullfrogs
The tree of the barred owls
The sunlit arbor with hanging moss
The lover's bridge with huckleberries
The playground of laughing children
The field of determined moles
The daisies at the bench memorial
The reedy verge of wood ducks
The place of whispering cottonwoods
The tree-stumps red at sunset
The view we sometimes paint
The fungous musk of the fallen fir
The feral snapdragons of the old cabin
The ancient larch standing alone
The ever-running brook
A place can be quite ordinary and still be a special place. It's all in the eye of the beholder.
And shared history can magnify wonders - our children played and were painted on the great curved rocks that are now too overgrown to paint again.
Now the swings and teeter-totters are for someone else's tots.
With the naming and claiming that artists tend to do, there's a collection to be had.
Like the haiku of titled paintings, they are the labels of our lives.
By some miracle we are allowed on this path for a short while, and you can be sure when we are gone some like-minded ones will be there to take over.
*By Robert Genn (painter)

terça-feira, julho 11, 2006

FÉRIAS PROCESSUAIS

Férias Judiciais?
Mas o que raio é isso?

Estou farto de ouvir, de ver, de ler, os maiores disparates, dislates, tretas e afins sobre esta questão, quer por ignorância, quer por insidiosa e malévola argumentação em torno do conceito, com aproveitamentos nem sempre confessáveis contra os juízes.

Chega!

É tempo de mudar aquela designação.

É enganosa: Não são "férias" "judiciais"!

Primeiro porque não são férias, ou seja, não é um periodo de descanso de ninguém!
Acontece é que durante esse período manda a lei que quem trabalha nos tribunais possa ter as suas férias, contidas (ou não) no (agora) exíguo período para o efeito.

Em segundo lugar, porquê "judiciais"?
Se assim se designa por referência ao tribunal, então não se vê como o tribunal (o edifíco?) possa ir de férias!
Se a referência são os juízes ("judiciais"), então também não se afigura correcto, pois não se referiria apenas às férias pessoais dos juízes, já que outras pessoas estão ali englobadas e não são juízes, v.g. os magistrados do MºPº, os funcionários, os advogados...

Portanto "férias judiciais" é uma designação completamente errada, falhada.

E dá lugar aos maiores desvarios de interpretação por parte de leigos ou de gente de má-fé.

Proposta 1 (com fundamentação diversa, obviamente, da acima exarada): Acabe-se lá com essa treta das "férias judiciais", para se poder ter férias em qualquer altura do ano, como toda a gente!

Proposta 2: Na manutenção do instituto, chame-se-lhe... sei lá... "férias processuais"!

Na verdade, são os processos não urgentes que entram de férias!

FÉRIAS PROCESSUAIS!

(Eis aqui uma boa oportunidade de negócio para as agências de viagens, agora que os portugueses vão passar a viajar menos!)

segunda-feira, julho 10, 2006

INFÂNCIA CIVILIZACIONAL?

A propósito de um comentário da Sónia ao anterior post, cabe comentário sob a forma de post:
Atendendo à data da mãe moderna de todas as democracias - 1789 - já nem sei se é infância, se é adolescência ou mesmo se não serão ainda as dores do parto.
É importante, julgo eu, não esquecer estes pensadores, mesmo quando a sua mensagem é aparentemente de descrédito nas virtualidades positivas da organização e capacidade de organização humanas.

Masoquismo?
Claro que não!
Apenas para que não adormeçamos à sombra da dita, inebriados pelos seus aparentes valores, tão nobres quão voláteis, por frágeis e manipuláveis.
Importante também é questionar, permanentemente!

A razão não pode contentar-se com valores apriorísticos e abstractos, quando a práxis revela uma outra realidade.
A ideia de que basta viver num regime juridico-politicamente organizado em democracia para se usufruir de todas as virtualidades da dita é, a meu ver, muito perigoso.
Além do mais, acaba por embrutecer as pessoas, os cidadãos, e embotar a sua capacidade crítica.
Se é pouco suportável a ideia de esta ser uma república das bananas, completamente insuportável seria a ideia de vivermos numa república de bananas!

domingo, julho 09, 2006

HOJE, COMO HOJE

- Como disse?
- Nada... Não disse nada. Estava a ler em voz baixa...
- Leia alto. Por favor...
- Terá interesse? É Tocqueville... com mais de cem anos...
- A que propósito?
- Bem... Democracia. A propósito da democracia, veja lá... Ora ouça:
"...penso que a espécie de opressão que ameaça os povos democráticos em nada será parecida com aquelas que a têm precedido no mundo (...) Busco no vazio, eu próprio, uma expresssão que reproduza exactamente a ideia que formo e a compreenda: as antigas palavras despotismo e tirania não me parecem de forma alguma adequadas.
A coisa é nova (...). Vejo uma multidão inumerável de homens parecidos e iguais que giram sem repouso sobre si mesmos para procurarem pequenos e vulgares prazeres com que enchem a sua alma.
Cada um deles, visto em separado, é como que estranho ao destino de todos os outros (...): Não existe a não ser em si mesmo e para si só e, se resta ainda uma família, pode dizer-se pelo menos que já não tem pátria. (...) Acima deles eleva-se um poder imenso e tutelar, que só por si se encarrega de assegurar os seus gozos e de velar pela sua sorte. É absoluto, detalhado, regular, preciso, previsor e doce. Pareceria um poder paterno se, como este, tivesse como objectivo preparar os homens para a idade viril; Mas não, pelo contrário, não procura senão fixá-los irrevogavelmente na infância; quer que os cidadãos desfrutem conquanto não pensem senão em desfrutar.
Trabalha de bom grado para o seu bem-estar, mas quer ser o único agente e o único árbitro, providencia a sua segurança, prevê e assegura as suas necessidades, facilita os seus prazeres, conduz os seus principais negócios, dirige a sua indústria, regula as suas sucessões, divide as suas heranças.
Porque não haveria de tirar-lhes por completo o transtorno de pensar e o esforço de viver! (...) É assim que cada dia converte em menos útil e em mais raro o emprego do livre arbítrio; encerra a acção da vontade num espaço menor e subtrai a pouco e pouco cada cidadão até ao uso de si mesmo.(...)
Depois de ter tomado assim, a pouco e pouco, nas suas poderosas mãos, cada indivíduo, e de o ter moldado à sua maneira, o soberano abre os seus braços sobre a sociedade inteira; cobre a sua superfície com uma rede de pequenas regras complicadas, minuciosas e uniformes, através das quais os talentos mais originais e as almas mais vigorosas não poderão encontrar a claridade para sobressairem da multidão;
Não destrói as vontades, mas amolece-as, submete-as e dirige-as;
Raras vezes obriga a agir, mas opõe-se, sem cessar, a que actue;
Nada destrói, mas impede que nasça;
Não tiraniza nada, mas estorva, comprime, enerva, apaga, e reduz, enfim, cada nação, a não mais do que um rebanho de animais tímidos e laboriosos, de que o Governo é pastor.".

- Tocqueville, hem?
- Pois...
- Quem era? Algum profeta?
- Pois...