quarta-feira, setembro 07, 2005

Informatização nos tribunais - I

Em finais dos anos 80 do século passado iniciou-se a difusa informatização dos tribunais.
Naquela altura, e durante muitos anos ainda, os computadores eram utilizados apenas como máquinas de escrever sofisticadas, utilizando o arcaico DW4 (em saldo na altura).
Magistrados houve que aderiram imediatamente.
Os restantes, a pouco e pouco, foram aderindo às acções de formação e quando "descobriram" as possibilidades de refazer e intercalar texto, de importação de texto a partir de outros escritos, substituiram a caneta pelo teclado.
Mas não ía além disso.
Cada PC "vivia" isolado dos restantes e só por disquete, em regra, os dados circulavam entre PC's.
O PC era uma máquina de escrever em versão melhorada.
Também os funcionários judiciais se viram confrontados com a máquina.
E também aqui careciam de formação.
O drama foi, então, saber quem iria receber formação prioritariamente, posto que havia que priorizar a formação.
Digo drama, exageradamente, mas se não foi dramático foi risível.
Primeiro, pensou-se enviar os escriturários e os adjuntos. Afinal, seriam eles quem viria a utilizar efectivamente as ditas máquinas, posto que o exercício das funções de chefia que cabiam ao escrivão dispensava informática.
Mas o escrivão era o chefe...
Seria impensável que os subalternos tivessem formação específica antes do respectivo chefe. Seria inadmissível que os subalternos soubessem algo, profissionalmente, que as chefias ignorassem.
Um pouco por todo o lado, chefias (não utilizadoras do pc) foram à formação e escriturários e adjuntos (os efectivos utilizadores do pc) não foram nas primeiras acções.
Resultado: Quem teve formação não era utilizador e quem era utilizador potencial não sabia como operar com a dita máquina.
Solução: As chefias gastaram muitas horas a transmitir, ou a tentar transmitir, aos subalternos algo do pouco que tinham captado na formação, nem sempre com os melhores resultados.
Nos casos mais desesperados ( e foram muitos) os equipamentos não foram sequer utilizados durantes anos. Entrava-se numa secretaria judicial e lá estava o matraquear do teclado 'hcesar' contra as folhas A4 e três químicos.
Chamou-se a isto "informatização dos tribunais" e os senhores ministros da justiça, de cada vez que um qualquer negócio colocava nos tribunais mais umas dezenas de PC's, logo enfatizavam a dita "informatização".
Conclusões:
O discurso político desfasado da realidade, demagógico.
Ausência de implementação de experiências-piloto.
Falta de rigor no planeamento e sobretudo na execução.
Ausência de monitorização da execução.
Ineficiência e ineficácia na utilização e nos resultados da utilização dos equipamentos e dos meios técnicos e humanos.

1 comentário:

Sónia Sousa Pereira disse...

É... o que temos!

Desmaterializem-se estes iluminados.

Como disse e bem, é um drama!

Tragédia mesmo!!

SSP