terça-feira, julho 18, 2006

O CONTRATO ORGÂNICO

"Houve um tempo em que todos os membros do corpo
Se rebelaram contra a barriga; acusaram-na assim:
Que apenas como um abismo ela existia
No meio do corpo, preguiçosa e inactiva,
Ainda aguardando a vianda, nunca suportando
Igual trabalho com os restantes; onde os outros instrumentos
Realmente viam e ouviam, inventavam, instruíam, caminhavam, sentiam
E, naturalmente, participavam, ajudavam
No apetite e afeição comum
De todo o corpo. A barriga respondeu...
Para os membros descontentes, as partes amotinadas
Que invejavam a sua posição; mesmo assim muito aproximadamente
Como vós difamais os nossos senadores por isso
Eles não são como vós...
«É verdade, meus amigos e companheiros», disse ela,
Que recebo a comida geral a princípio
De que vós viveis; e próprio é,
Porque eu sou o armazém e a loja
De todo o corpo. Mas, se vos lembrardes,
Eu mando-a através dos rios do vosso sangue,
Mesmo para a corte, o coração, para a sede do cérebro;
E, através das bielas e serviços do homem,
Os nervos mais fortes e as pequenas veias inferiores
De mim recebem essa natural competência
De que vivem. E...
...embora todos imediatamente não possam
Ver o que eu despacho para cada um,
Todavia eu posso fazer os ajustes, que todos
De mim voltam a receber a farinha de todos
E deixam-me apenas o farelo...
Os senadores de Roma são esta boa farinha,
E vós os membros amotinados; pois, examinai
Os seus conselhos e os seus cuidados, digeri as coisas correctamente
Tocando no bem comum, vós verificareis
Que nenhum benefício público que recebeis
Procede ou vem senão deles para vós,
E de modo nenhum de vós próprios."

(Shakespeare, Coriolanus, I. 95-156)

1 comentário:

xavier ieri disse...

Shakespeare?
neeaahhhhh!!!!!