- Venham! Depressa! Depressa!
- Quem é? Quem grita?
- É o Tonito da Felismina... vem prali a gritar o danado...
- Corram! Depressa! Depressa!
- O que foi rapaz? Que gritaria é essa? Inda o sol mal salevantou e já tu estás nisto...?
- Foi... foi...
- Respira, rapaz! Respira! Calma!
- Foi.. é o Bonifácio!
- O Bonifácio!? O que tem o Bonifácio?
- Tá morto!
- Helá! Tá morto?
- Mas ouve lá, meu menino, morto... morto? Mêmo morto?
- Morto morridinho... todo morto... coitado...
- Mas onde? Quando? Morto? Tás bom da cabeça?
- Tá no cemitério! Morto! Eu vi! Eu vi!
- No cemitário!? Morto!?
- Bem... naé mal alembrado... no cemitério... morto... naé mal alembrado, nan senhor...
- Morto? Quem?
- O Bonifácio! Tá morto! No cemitério!
- Ah! Coitadito... Como foi?
- Atão e já tá no cemitério?!
- Não, não...
- Diz lá Tonito, como foi que...
- Nan sei Ti Barnabé, mas quele tá morto, tá! Eu vi-o!
- Mas atão, no cemitério... mas adonde?
- No jazigo dos Ferreirinhas!
- Ohh!!
- Helás!!
- No jazigo... como? Lá dentro?
- Lá dentro, Ti ' Policarpo!
- Nem quero acreditar...
- É verdade! Juro! Eu vi-o! Mortinho de todo! Ca cara de boca aberta, os olhos arremelgados...
- Os olhos arremelgados...?
- Sim, cuma cara de medo... Cá pra mim, ele morreu de susto!
- De susto? Tu nan tás bom da cabeça, Tonito!
- Tou, tou! Juro! Morreu de susto! Juro! Só pode ser! Juro! Venham lá ver, venham lá ver...
- Pode lá ser, rapaz!
- Juro! Morreu de susto, com o sobretudo pregado ao caixão!
- Qu sobretudo pregado ao caixão?! Ai que tu nan dizes coisa com coisa, rapaz...
- Juro, ele tá caído assim a modos que em direcção à porta, com aquela cara de medo e o sobretudo pregado ao caixão!
- O Bonifácio é um moço valente... tem lá medo dos mortos!!
- Não é ele que costuma fazer apostas de ir à meia-noite ao cemitério e coisas assim?
- É ele mêmo!
- Atão e agora morre de susto no cemitério? Nah!
- Olha, olha, vem ali o primo dele, o Sabino!
- Bom dia!
- Bom dia, Sabino.
- Atão isto é um comício, logo de manhã ou quê?!
- Não... ó Sabino... ouve lá... tu tens visto o teu primo Bonifácio?
- Vi, sim senhor. Inda onte tive cuele ali na tasca do Pulquério.
- Tens a certeza?
- Atão nan tenho?! Inté fizemos uma aposta!
- Uma aposta? É mêmo dele!
- Pois foi, apostamos quele nan era capaz de ir pregar um prego no caixão do Ferreirinha, à meia-noite!
6 comentários:
Morreu de susto com o sobretudo pregado ao caixão do Ferreirinha?
Malditos adereços...
Malditos pregos!!!!
Ah!
E qto à felicidade, ela não tem dias...
Nós é que temos alguns dias para ela!
bjitos!
É uma maneira de ver...
"o sobretudo pregado ao caixão..."
Querem ver que o sacana do costureiro era carpinteiro nas horas vagas e "trocou-se todo"?!
:D
Ou uma maneira de se sentir!
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