sábado, abril 03, 2010

VISÕES HOLÍSTICAS PARA COMPREEENSÕES MICRONIANAS

The Triumph of Politics, de David Stockman, da Harper & Row, New York, 1985, é um livro obrigatório se se quiser compreender a falta de transparência da vida político-partidária norte-americana de há 30 anos.

Note-se que ali se fala da sociedade americana, altamente fiscalizada pelos cidadãos, pelos media e pelas autoridades, sociedade de checks and balances, para a qual a responsabilidade e responsabilização não são palavras vãs.

Ali, apesar de as actividades políticas e privadas se regerem por códigos e leis acima de qualquer suspeita, certo é que há quem, nos partidos políticos, encontre sofisticados meios para o subterrâneo exercício do compradrio e do tráfico de influências.

E se ali era assim, e ainda é em grande medida, imagine-se neste Portugal.

No Portugal que temos, sem verdadeiros instrumentos de combate à corrupção, com a lei do financiamento partidário com mais buracos do que um passador, autoridades públicas permeáveis, por um lado, e sem suficientes meios técnicos e humanos, por outro, com quadros administrativos do Estado de cartão partidário ao peito, com cidadãos estupidificados, sem cultura de exigência, um país maioritariamente composto por chico-espertos ou pela sua alternativa, os desenrascados,


neste Portugal, dizia, será infinitamente mais fácil que a corrupção com origem política e nos políticos seja infinitamente mais presente do em outros países situados num grau superior de civilização e de cultura e consciência cívicas, grau esse ao qual ainda não conseguimos, nós outros, guindar-nos e, pelo andar da carruagem, tarde, se alguma vez, alcançaremos.

Em Portugal temos toda uma classe de políticos recheada de gentalha altamente permeável e proactiva no compadrio, no tráfico de influências, na corrupção, impregnada de parasitas enriquecidos de bens materiais, parasitas que, demagógica e cinicamente, apregoam estar na política por patriotismo e sacrifício pessoal, quando é evidente que antes de entrarem na política não tinham obra nem riqueza e o mais das vezes nem onde cair mortos.

Portugal continua, assim, a ser um pequeno país, só pequeno por ser constantemente delapidado e enfraquecido pelas associações de criminosos em que os partidos políticos foram transformados por muitos políticos sem carácter, sem vergonha, sem princípios e sem valores.

A verdade, em contraponto, é que, ao longo dos anos, alguns políticos que tiveram um discurso sério e vontade demonstrada de querer efectuar a mudança, foram afastados e afastaram-se para a sua vida privada, para os seus negócios, quando perceberam que era impossível remar contra uma tal maré de corrupção, contra uma máquina subterrânea poderosa.

Sobrevivem algumas vozes livres aqui e ali, mas apenas porque encontraram uma forma de não serem ou estarem directamente dependentes do sistema político-partidário e das suas máquinas de influência e corrupção, mesmo pelos seus tentáculos mais privados.

Entretanto, entre a chico-espertice e o desenrascanço lá nos vamos, nós portuguesinhos, arrastando pela lama dos dias, à espera de fins-de-semana com pontes e das férias grandes, rindo-nos alarvemente com o circo mediático dos freeports, das faces ocultas ou dos submarinos ou, pior ainda, banalizando e deixando que tudo se banalize...

Deixa arder...

O que não tem remédio, remediado está...


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