quinta-feira, abril 22, 2010

TER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO!

Os Gato Fedorento têm uma rábula na qual cantam uma canção que começa com os seguintes versos:

Nós vamos todos falecer,
Patinar, bater as botas...

E é verdade que esse é o grande sentido da vida: Uma dinâmica evolutiva pela constante renovação do ciclo vida e morte, seja lá isso o que for....

Hoje os meus átomos têm esta forma, amanhã, quiçá, farão parte de um corpo celeste qualquer.

Baril!

Isso não deve preocupar-nos ao ponto de nos tirar o sono.

De resto, o maior problema ocorre no período compreendido entre o nascimento e o momento da morte.

Esse é o período durante o qual é costume... viver-se.

Donde, viver é acordar todos os dias entre aqueles dois momentos: O do nascimento e o da morte.

A chatice é que nós, os humanos, temos o péssimo hábito de querermos ser felizes.

E parece que uma pessoa sozinha não consegue lá grande felicidade (se bem que há umas sex shop com produtos já muito evoluídos... naahhh, tou a brincar).

E tivemos então - historicamente, claro - a tendência para a agregação, a vida em sociedade, num impulso proveniente, creio, da nossa natureza humana, embora sempre num registo de voluntariedade.

Hoje, porém, já não é uma opção.

Com o planeta a encolher, cada vez mais e mais pequeno, dispensamos a agregação voluntária e impomo-nos uns aos outros sem quaisquer cerimónias.

E daí que resta constatar que estamos condenados a viver em sociedade, querendo ser felizes, mas nem sempre alcançando tal felicidade (que brilhante e original conclusão!).

Tempos houve em que à felidade bastava o amor e uma cabana.

Para os não platónicos e os não zoofófilos, adicionalmente talvez também uma mulher ou um homem.

Mas isso era no tempo em que nós os humanos eramos o que eramos.

Actualmente, já não somos o que somos: Somos o que temos.

Por isso se diz: "Ele é um zé-ninguém, não tem onde cair morto..."

Neste afã pelo ter, a maior parte das pessoas esquece-se de ser.

E bem! É que embora seja, não tendo não é!

Mas se tem, logo, existe!

Fascinante!

Portanto, há quem seja e é porque tem e há quem seja e não é porque simplesmente não tem.

Donde, quem tem sempre é e quem é, não tendo, acaba por não ser (conclusão genial!).

E é aqui que entra a famosa questão: TER OU NÃO SER!

Na verdade, a questão continua a ser a de saber
"Se mais nobre é em mente suportar
Dardos e flechas de ultrajante sina
Ou
tomar armas contra um mar de angústias
E firme, dar-lhes fim.".


(Ó Shakespeare, saíste-me cá um revolucionário do caneco, pá!!!)

Bom, não interessa...

De qualquer modo, em Portugal já ninguém tem estaleca para tomar armas contra um mar de angústias e, firme, dar-lhes fim.

De resto, em Portugal, a questão é apenas esta: TER OU NÃO SER e mai nada!

Em resposta a essa questão, surgiu no nosso querido e bem amado país a teoria da concentração dos inúteis tenentes.

De entre os inúteis, há um grupo de brilhantes inutilidades que são apenas porque têm (e por isso são tenentes).

Têm por hábito reunir-se em S. Bento (pensavam os caros leitores que se livravam, não!?).

E o que é que isso tem a ver com vida e felicidade? perguntam os meus caros amigos.

Eu sei lá!!!

Bem, certo certo é que com um pouco de sorte apanhamos com os inúteis mais inúteis, que são o que têm e, por isso mesmo, querendo sempre ter mais e mais, perdão, querendo ser mais e mais, se dedicam ao gamanço organizado e assalto à coisa pública, porque é onde há mais e mais facilmente à mão...

Assim, contra as vozes que os acusam de ganância e sede de poder, etc, etc, impõe-se reconhecer aqui a verdade: Os inúteis tenentes apenas querem ser, resolvendo assim o dilema de Hamlet, na lusa versão.

Não querem eternizar-se na angústia shakespeariana da omnipresente questão.

Querem, mesmo muito, ser.

E há mesmo quem queira ser muito.

Ora, pode lá negar-se a alguém esse nobre desiderato?

Claro que não!

O pequeno problema é que à força de os inúteis tenentes açambarcarem tanto ser, nós outros ficamos diminuídos na nossa capacidade de termos alguma felicidade, pá!

Mas, vá lá, não é assim tão mau!

Resta-nos viver, ou seja, acordar vivo todos os dias.

Bem bom!

Cá por mim já decidi: Vou à sex shop!

A gaita é que, mesmo na sex shop, para se ser alguém é preciso ter algum...

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