segunda-feira, julho 09, 2007

ESTRATÉGIA CANINA

O gato, frente ao seu comedouro, remoe o granulado, na satisfação do empanturramento sem critério.
O cão, que - vá lá saber-se porquê - gosta ou finge que gosta de granulado de gato, bispa o bigodes na comezaina e inicia a sua estratégia de desalojamento.
Sem alarido, entenda-se.
Primeiro, dirige-se-lhe e queda-se, imóvel, a cerca de um metro de distância.
Não ladra, não morde, não se mexe sequer.
Olha apenas, fixamente, o gato.
O gato apercebe-se, deixa de comer, vira ligeiramente a cabeça em direcção ao cão e permanece, ele também, imóvel.
O jogo de forças iniciou-se.
Sem ideias, um e outro.
Apenas poder latente.
O gato imóvel.
O canídeo inicia então, milímetro a milímetro, um movimento em direcção ao felino.
Suavemente.
Como quem não quer a coisa...
Aproxima-se mais e mais.
Suavemente, vagarosamente.
Até que a sua cabeça fica quase junta à do gato.
Impasse.
Tensão.
Às tantas, a presença imposta do cão é tão forte que o gato, num movimento de repulsa, salta e fica ao largo.
Resmunga, mas... cede o lugar.
Quanto mais não seja, por pudor.
Há pessoas assim.
Perdão, há cães assim.
Sub-reptícios.
Manhosos.
Que fazem das regras do jogo - 'cada um come na sua gamela' - mera semântica...
E no fim, sempre poderão afirmar: Eu?! Eu não! Ele é que se foi embora! Eu até nem disse nada!...
Quem ? Eu? A directora da DREN é que...
Bem, isso é outra estória...
Cães sortudos, é o que é.
Cães com dono.
Cães que, mesmo sem mérito, levam os melhores nacos de carne.
E ainda comem o granulado do bichano.
O meu cão é tão bem tratado que eu até já lhe disse: "Foge cão que te fazem barão!"
E ele, rafeiroso bastardo, respondeu-me: "Para onde, se me fazem conde?".

2 comentários:

Apache disse...

É caso para dizer que "aqui (nesta história) há gato".

Anónimo disse...

Rafeiro, podengo portugues, cao da serra da estrela, cao de castro laboreiro