quarta-feira, novembro 29, 2006

A MAIORIDADE ABSOLUTA

O Anaximandro é do camandro!
O tipo tem umas idéias fixas e tal.
Até aos 17 anos de idade exercitava a sua hegemónica vontade brincando com um sistema de comboios montado lá na garagem do pai.
Passageiros, agulheiros, ferroviários avulso, andava tudo numa sarabanda do catano debaixo das suas ordens.
E, naquela altura, mesmo o maquinista tinha de calar-se quando ele, o Anaximandro, decidia queimar exemplares da crp na caldeirinha do comboio, alegando fazer co-incineração de resíduios perigosos e com isso introduzir um bom ambiente (o que, em boa verdade, nunca conseguiu, pois naquelas alturas não se podia entrar na garagem com aquela fumaceira toda).

Quando alcançou a maioria absoluta, perdão, a maioridade absoluta, aos 18 anos, a coisa piorou.
Decidiu montar casa própria e, nela, um brinquedo que pretendia ser muito sofisticado a que decidiu chamar TGV.
Chamou os amigos e distribui-lhes tarefas.
Ele, Anaximandro, é agora o maquinista e vá de nomear cobradores, agulheiros, assessores vários e acabou por formar um grupo que muito se divertia nas suas brincadeiras.
O cobrador, sob as ordens directas do maquinista, cobrava não só o preço dos títulos de transporte como também controlava o consumo do combustível (carvão, tá claro!).
O comboio tem uma carruagem de primeira classe e todas as restantes são agora de 3ª, de 4ª categoria e há até umas tantas que dão muito geito embora há muito tivessem deixado de ser usadas em países da América do Sul e em África.
Já as carruagens de 2ª classe desapareceram.
A carruagem de primeira classe está reservada para a equipa do maquinista, amigos, amiguinhos, coleguinhas do partido, coleguinhas do inteiro, conhecidos, afins, interesseiros, administradores não executivos, banqueiros e proxenetas vários do sistema.
Havia um sistema de troca de favores que permitia aos da 1ª classe fingir pagar os títulos de transporte, o que é perfeitamente justo, já que nestas merdas alguém tem de ser importante!
Nas restantes, a populaça, todos trabalhadores nas minas de carvão, peso morto, portanto, verdadeiros trastes que apenas faziam peso ao comboio.
Ah!... e... bem... sempre pagavam, sem apelo nem agravo, os respectivos títulos de transporte, o que permitia ao comboio ir andando...
Embora ninguém percebesse para que é que pagavam, pois apenas andavam às voltas, às voltas, e não chegavam a lado algum...

Mas, é claro, aquelas merdas eram caras comó catano!
"É pá! A máquina gasta carvão comó caralh... (piiiiiiiiii)" disse o cobrador! "E agora?"
"Epá, eu bem disse que a carruagem de 1ª classe era muito grande..."
"Chiu!!!" Sscchh..."
Tá bem! Tá bem!"

No silêncio, todos perceberam que o aumento do preço dos títulos de transporte ainda era a melhor receita, complementada com a venda dos anéis da tia Ermelinda.
Decidiram então aumentar os preços dos títulos de transporte.
Mas não só.
As entradas e saídas, mesmo nos apeadeiros mais concorridos e sem alternativa, foram portajadas e até o bobi foi desalojado da sua casota, por ser considerado privilégio inadmissível.
Claro que o bobi não se calou, ladrando em surdina num passeio alegre que fez em frente da porta da frente da casa.
Deu em nada.

Os passageiros, de brincar, do comboiozinho de brincar, é que não acharam graça nenhuma, pois eram eles que pagavam as suas (dele, Anaximandro) brincadeiras, através do pagamento de títulos de transporte caríssimos.
Houve mesmo quem dissesse: "Ouve lá, ó Anaximandro, nós pagamos bilhetes de primeira a um preço absurdamente alto e temos serviços de 3ª e 4ª categoria, pá!
Autista (que é uma qualidade dos iluminados que atingem a maioridade absoluta) nem se dignou responder, mas mandou dizer pelo chefe da estação que as suas medidas eram inevitáveis e eram as correctas.
Ficaram todos expectantes.

Mas houve quem ficasse muito preocupado com a situação: O bode.
O bode está inconsolável, pois sabe que mais tarde ou mais cedo vai ser apontado pelo maquinista como o expiatório do descarrilamento.
Como se sabe, nas linhas de comboio conduzidos por maquinistas como o Anaximandro, há sempre um pobre dum bode, que será apontado a dedo e apedrejado até confessar, permitindo ao maquinista ser reeleito para nova corrida nova viagem!

4 comentários:

Anónimo disse...

Interessante esta "estória" do Anaximandro Sousa... Mas acho que ele devia chamar-se Ideafix.

xavier ieri disse...

Olá Apache,
Nos comentários do post abaixo não te referi meu caro amigo. Reparei depois.
Reparo agora.
Poderia concordar com a do "ideiafix".
Mas... eu até gosto do ideiafix!
Agora, que o Anaximandro é um cão, disso não há a menor dúvida: De quando em vez ouve-se uma voz, vinda lá de Bruxelas: "sit, dog, sit! Good dog!"
E é vê-lo, aí num canto qualquer, a rilhar o défice, qual osso cheio de tutano...
Ó do penacho, um abraço.

Cleopatra disse...

Eu acho que chame lá o que quiser ao Anaximandro... porque a história é mesmo do Camandro
E Bode que seja expiatório...pois se é esse o destino dele!!

DarkMorgana disse...

Mas que lindo Conto de Natal que até mete combóios e Anaximandrinhos e tudo!

É pena é os bodes não darem umas boas marradas nos Anaximandros dete país e mandarem-nos pó catano!

O problema é que estes bodes geralmente também são do camandro...e se dessem as marradas, expunham-se a si e à manada toda...

E era uma vez um bode...