terça-feira, novembro 15, 2005

MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA

Subitamente ouço o silêncio.
Um por um, todos os animais da quinta se vão calando.
Outros vão calando.
Pura premonição.
Como se adivinhassem uma catástrofe.
Como se fosse iminente furacão ou talvez terramoto.
Aguarda-se apenas que o meteorologista de serviço lance o aviso de catástrofe.
Entretanto, impõe-se reservar umas conservas, biscoitos secos e garrafões de água.
Não se sabe, nem é possível calcular, a dimensão da devastação.
E umas pilhas.
Para o transistor.
Alguma ligação ao mundo terá de haver.

Mas quero crer (ou não fosse este um país corrupto e chico-espertista) que subornando o meteorologista se pode convencê-lo a evitar a catástrofe.
E uma vez que a razão vai sendo cada vez mais um bem raro, logo, precioso, pode até ser ser que sirva de moeda de troca.
Pede-se, pois, às adequadas estruturas representativas dos animais da quinta que reunam as suas reservas de razão e delas façam entrega ao meteorologista de serviço a troco de nada que não seja simples utilização da dita.
Poderá resultar.
A menos que esse meteorologista esteja já provido de uma razão que a própria razão desconheça.
Nesse caso, é catástrofe certa.
É que o pior que pode acontecer num país é um meteorologista de serviço desprovido de razão.
Pode ocorrer uma devastação total.

Voltemos aos biscoitos secos...

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